A jornada de trabalho infinita: o caos na saúde mental
Estudo revelou que 60% dos trabalhadores pesquisados se sentem esgotados e sobrecarregados

A dedicação sem fim ao trabalho, constatada recentemente pelo relatório 'Repensando a jornada de trabalho infinita' da Microsoft, cria um cenário desafiador para o bem-estar mental.
O estudo revelou que 60% dos trabalhadores se sentem esgotados e sobrecarregados, então o que fazer diante disso?
Bia Tartuce, mentora de líderes e de carreira, consultora de negócios em RH e psicóloga, explica como empresas e profissionais podem trabalhar juntos para mitigar os efeitos negativos dessa rotina exaustiva.
A eterna disponibilidade que só faz mal
O relatório da Microsoft aponta que 50% dos trabalhadores sentem que precisam estar online o tempo todo e 48% checam e-mails e mensagens de trabalho fora do horário comercial, incluindo fins de semana.
Esta cultura de estar sempre disponível, alimentada pela tecnologia, cria uma expectativa implícita de que as respostas sejam imediatas, mesmo fora do expediente, o que gera um ciclo vicioso de ansiedade e culpa.
“O profissional sente que precisa responder a um e-mail de madrugada para não ser visto como desengajado, ou que deve estar online no fim de semana para não perder uma oportunidade. O resultado é um estado de alerta constante, que leva ao esgotamento mental, à dificuldade de relaxar e a um sentimento de que nunca é suficiente", comenta Tartuce.
A avalanche de informações, a necessidade de estar em múltiplas plataformas simultaneamente e a dificuldade de interpretar o tom em mensagens de texto também contribuem para o esgotamento mental dos profissionais. Isso tudo traz consequências significativas, tanto para as pessoas, quanto para empresas.
“As consequências nesta era da conectividade ininterrupta são diversas, desde a fadiga constante, insônia e dores de cabeça, até a irritabilidade, dificuldade de concentração, perda de interesse no trabalho e, em casos mais graves, ansiedade e depressão. O indivíduo perde sua qualidade de vida e saúde e as empresas enfrentam queda de produtividade, aumento do absenteísmo e alta rotatividade”, comenta.
Empresas, líderes e profissionais devem agir juntos
A responsabilidade sobre a saúde mental no trabalho envolve tanto os profissionais quanto as empresas.
Para o indivíduo, é fundamental que cada um desenvolva estratégias para gerenciar seu tempo e energia, sendo a principal delas estabelecer limites claros.
“Isso significa definir horários para começar e terminar o trabalho, e comunicá-los; desativar notificações fora do expediente, evitar checar e-mails antes de dormir ou ao acordar e reservar momentos para atividades que promovam o bem-estar”, esclarece a psicóloga.
O relatório da Microsoft reforça a importância da autonomia, mostrando que 73% dos funcionários querem opções de trabalho flexíveis ou remotas.
Já para as empresas, elas têm um papel central na promoção de um ambiente de trabalho saudável. De acordo com Tartuce, não se trata apenas de oferecer benefícios, mas especificamente de criar uma cultura que valorize o bem-estar.
“O RH é o coração dessa transformação, atuando como um agente de mudança. Ele deve implementar políticas claras de saúde mental e treinar líderes para saberem lidar com isso também”, afirma.
A pesquisa da Microsoft indica que 81% dos líderes estão preocupados com o bem-estar de seus funcionários, mas apenas 42% dos funcionários sentem que seus líderes se preocupam genuinamente com eles.
De acordo com Tartuce, os líderes precisam estar atentos aos sinais de esgotamento em suas equipes, incentivar o descanso e dar o exemplo, mostrando que é possível ser produtivo sem estar exausto.
"Se o líder envia e-mails de madrugada ou espera respostas imediatas, ele está, mesmo que inconscientemente, reforçando a cultura da hiperconectividade. É crucial que ele incentive a desconexão, criando um ambiente onde o descanso é visto como parte da produtividade e não como um sinal de falta de comprometimento”, esclarece.
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