Como as decisões do Meta podem impactar a comunicação corporativa

As marcas, que até então contavam com um sistema de verificação terceirizado para manter sua credibilidade online, agora se veem diante de um terreno mais instável

Jan 31, 2025 - 12:03
Como as decisões do Meta podem impactar a comunicação corporativa

A recente decisão da Meta de encerrar seu programa de verificação de fatos por terceiros e adotar um modelo semelhante ao "Community Notes" do X representa uma mudança sísmica no cenário da comunicação corporativa e midiática.

Essa guinada, anunciada por Mark Zuckerberg, não apenas redefine o papel das plataformas de mídia social na disseminação de informações, mas também provoca uma série de reflexões sobre o futuro do mercado de comunicação corporativa.

O impacto dessa decisão no universo corporativo é multifacetado e potencialmente disruptivo. As marcas, que até então contavam com um sistema de verificação terceirizado para manter sua credibilidade online, agora se veem diante de um terreno mais instável.

A ausência de fact-checkers profissionais pode criar um ambiente fértil para a proliferação de desinformação, obrigando as equipes de comunicação corporativa a repensar suas estratégias de monitoramento e resposta rápida.

Em situações de possíveis crises de imagem, a comunidade polarizada pode interpretar os fatos com base apenas nas narrativas mais convenientes ao polo que se identificam, o que pode acarretar em problemas ainda maiores.

Essa nova realidade também exige uma reavaliação completa das estratégias de relações públicas e marketing.

As empresas, conscientes dos riscos associados à veiculação de suas mensagens em um ambiente menos controlado, podem optar por diversificar seus canais de comunicação ou investir mais pesadamente em conteúdo próprio verificável.

Há ainda o fantasma do êxodo de anunciantes, reminiscente da crise enfrentada pelo YouTube em 2017/2018, pairando sobre a Meta.

Grandes marcas podem reconsiderar seus investimentos publicitários se perceberem que suas marcas estão sendo associadas a conteúdos questionáveis ou potencialmente danosos.

As implicações dessa mudança transcendem fronteiras, atingindo dimensões globais e locais. Há uma preocupação latente de que o impacto seja desproporcionalmente sentido no Sul Global, onde as políticas de moderação de conteúdo já eram consideradas deficientes.

Esse cenário pode exacerbar problemas existentes de desinformação e manipulação da opinião pública em regiões mais vulneráveis.

No âmbito regulatório, a decisão da Meta pode catalisar debates sobre a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa das plataformas de mídia social.

No Brasil, por exemplo, isso pode acelerar as discussões em torno do PL 2630 e a análise de constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.

O fim das parcerias com verificadores de fatos profissionais é visto com apreensão por organizações como a Abraji, que temem um enfraquecimento significativo dos esforços de combate à desinformação, especialmente em períodos críticos como os pré-eleitorais.

A flexibilização das restrições sobre conteúdos relacionados a temas sensíveis como imigração e gênero pode representar um retrocesso nas políticas de diversidade e inclusão, potencialmente abrindo espaço para a proliferação de discursos prejudiciais a grupos minoritários.

A decisão da Meta de alterar suas políticas de moderação de conteúdo gera um ponto de inflexão no mercado de comunicação corporativa.

Enquanto alguns enxergam nessa mudança um passo em direção à liberdade de expressão, outros temem pelas consequências para a integridade da informação e a responsabilidade corporativa.

O que é certo é que empresas e profissionais de comunicação terão que se adaptar rapidamente a esse novo cenário, desenvolvendo estratégias mais sofisticadas para proteger sua reputação e assegurar a confiabilidade de suas mensagens em um ambiente digital cada vez mais complexo e desafiador.

Em tempos tão incertos, uma única certeza. Como sempre, o ecossistema da comunicação corporativa demonstrará sua resiliência e capacidade de adaptação, para atender a essa nova realidade.

* Fábio Ventura é CEO da Like Leads e Jornalista 

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