Quase 40% das empresas ainda não têm um departamento de ESG

Pesquisas revelam lacunas entre intenção e prática, com ceticismo de funcionários e pressão crescente de investidores

Jun 23, 2025 - 23:03
Quase 40% das empresas ainda não têm um departamento de ESG
As três principais barreiras identificadas para o avanço da sustentabilidade nas empresas são a existência de outras prioridades estratégicas

Apesar de 61% das empresas brasileiras considerarem as práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) uma estratégia de negócio, a realidade operacional ainda mostra defasagens significativas.

Apenas 39% dessas organizações possuem um departamento específico dedicado ao tema, conforme a oitava edição do “Estudo de Sustentabilidade” da BDO Brasil.

O estudo da BDO Brasil aponta que somente 37% das empresas publicam relatórios anuais de sustentabilidade.

Desses, 41% utilizam metodologias próprias e apenas 24% passam por verificação externa. Para diminuir essa lacuna, as corporações buscam integrar o tema ESG em treinamentos de compliance, visando capacitar os colaboradores nos aspectos técnicos e regulatórios.

Barreiras estruturais e desafios de governança
As principais barreiras para o avanço da sustentabilidade nas empresas são:

  • Outras prioridades estratégicas (69% dos respondentes).
  • Dificuldade na disseminação da estratégia entre os colaboradores (23%).
  • Questões orçamentárias ou de captação (8%).

A fragmentação de prioridades reflete-se no dia a dia: menos da metade das 150 empresas avaliadas no estudo dialogam com funcionários sobre o uso consciente de água, e 65% não controlam as emissões de gases de efeito estufa por meio de inventário.

No entanto, 74% se preocupam em comprar materiais recicláveis e 63% separam resíduos para destinação correta.

Em relação à governança corporativa, 61% das empresas pesquisadas afirmam possuir boas práticas como parte de sua cultura organizacional.

Contudo, apenas 37% verificam se os fornecedores diretos atuam em consonância com ESG, indicando a necessidade de uma integração mais sistemática entre governança corporativa, compliance e programas de ESG.

Uma pesquisa da Bells & Bayes corrobora essa necessidade, mostrando que, embora 63% das companhias brasileiras tenham publicado relatórios de sustentabilidade, somente 29% tiveram seus dados auditados externamente, evidenciando a urgência de padronização e verificação independente.

Ceticismo interno e expectativa externa
Uma pesquisa do Tec Institute, em parceria com a MIT Tech Review Brasil, revela que oito em cada dez colaboradores não acreditam que suas empresas realizem um trabalho "muito bom ou excelente" em práticas ESG. As iniciativas mais comuns são gestão de resíduos e reciclagem (30%), respeito aos direitos humanos (40%) e prevenção à corrupção (31%).

Esse ceticismo contrasta com a expectativa dos consumidores. Um estudo do IBM Institute for Business Value indica que 62% das pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos de empresas sustentáveis, e 95% dos brasileiros priorizam companhias que investem em práticas sustentáveis e responsabilidade social.

Pressão do mercado financeiro
O mercado de investimentos ESG intensifica a pressão sobre as empresas. Levantamento da Bloomberg Intelligence aponta que investimentos na área já representam mais de um terço do total de ativos sob gestão e podem alcançar US$ 53 trilhões até dezembro.

Empresas com baixa pontuação ESG tendem a ser excluídas de fundos e índices especializados, um cenário já presente no Brasil.

As responsabilidades ambientais, sociais e de governança estão sendo cobradas por diversos públicos: investidores, clientes, funcionários, comunidades e órgãos reguladores.

Classificações ESG inadequadas podem dificultar a captação de investimento externo, já que os relatórios das agências de classificação são fundamentais para as decisões de investidores institucionais.

Na dimensão social, 61% das empresas promovem doações e incentivam o apoio a causas filantrópicas. O Global Impact Investing Network registra que 91% dos investidores de impacto consideram o engajamento local crucial para resultados sustentáveis.

A mudança nas empresas é impulsionada principalmente pela pressão de stakeholders como acionistas, consumidores, fornecedores e comunidades locais.

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