Vagas em supermercados: salário baixo e dificuldade em preencher postos
O expediente, em escala 6x1, exige que o funcionário também realize outras funções, como reposição de mercadorias e limpeza

Supermercados em todo o país estão com dificuldades para preencher vagas de operador de caixa, mesmo com a oferta de salário inicial de R$ 1.600, vale-transporte e refeição.
O expediente, em escala 6x1, exige que o funcionário também realize outras funções, como reposição de mercadorias e limpeza.
Recentemente, empresários do setor em São Paulo revelaram que não conseguem preencher 35 mil postos, atribuindo a dificuldade à busca dos jovens por mais "modernidade e flexibilidade". A solução proposta por eles é a adoção do regime de trabalho por hora, ou intermitente.
No entanto, representantes sindicais e pesquisadores da área de trabalho alertam que essa modalidade pode levar à precarização, com riscos de redução salarial e perda de direitos trabalhistas.
Realidade salarial e impacto na qualidade de vida
Análises mostram que o salário oferecido, pouco acima do mínimo nacional (R$ 1.518), é insuficiente para cobrir as despesas básicas, como aluguel (a partir de R$ 900 em Nova Iguaçu-RJ, por exemplo) e alimentação (R$ 432 por pessoa para uma cesta básica saudável).
Descontando o INSS, o salário líquido fica em torno de R$ 1.404, já abaixo dos custos essenciais.
Especialistas, como a psicóloga social do trabalho Flávia Uchôa de Oliveira (UFF), apontam que essas condições levam ao endividamento ou à necessidade de complementar a renda em dias de folga, gerando um ciclo de precarização. Pesquisas indicam que a escala 6x1 contribui para o adoecimento físico e mental dos trabalhadores.
Contrato intermitente: mais precarização?
O contrato intermitente, validado pela reforma trabalhista de 2017 e confirmado pelo STF, permite que o empregador convoque o funcionário conforme a necessidade, com remuneração baseada nas horas trabalhadas e direitos proporcionais.
A economista Allana Santos de Oliveira (UFU) critica o modelo, afirmando que ele fragiliza o trabalhador ao remover a previsibilidade de jornada e renda mínima.
Ela destaca que a modalidade teve baixo engajamento no Brasil e pode gerar vulnerabilidade social, dificultando o acesso a benefícios como seguro-desemprego. Para ela, a intermitência é uma clara forma de precarização.
Rejeição sindical e o futuro do trabalho
Entidades que representam os trabalhadores do comércio, incluindo o setor de supermercados, são veementemente contra o contrato por hora.
A principal bandeira da categoria é a redução da jornada semanal de trabalho, sem redução salarial, buscando melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, afirma que a "escravidão moderna da escala 6x1" e os "salários de fome" não são mais aceitáveis.
Ele defende que a juventude busca dignidade, tempo para estudos, família e lazer, e que o argumento de prejuízos para as empresas não se sustenta, dado o crescimento expressivo do setor de supermercados.
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