O IR dos sonhos e o pacto do Brasil verdadeiro

Jan 22, 2025 - 08:49
O IR dos sonhos e o pacto do Brasil verdadeiro

Que país é esse que, de tempos em tempos, encontra na utopia do “justo” a esperança de uma nação mais equilibrada? Pois é exatamente onde estamos.

A pesquisa da AtlasIntel, em parceria com a Bloomberg, revelou algo quase lírico: 82% dos brasileiros são favoráveis à isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.

Uma medida que soa como um poema fiscal para quem vive, ou sobrevive, no Brasil das contas apertadas.

Mas, como diria o velho provérbio, prometer não é caro - caro é cumprir. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em seu pronunciamento no final de novembro, elevou o tom da expectativa ao anunciar a medida. Entretanto, o projeto ainda não chegou ao Congresso.

E como na política - ou na vida - o que não chega é como o amanhã de Scarlett O’Hara: uma promessa eterna, que talvez nunca se realize.

Ainda mais interessante é que 57,6% dos brasileiros dizem “sim” à ideia de aumentar impostos sobre os super-ricos para custear programas sociais.

O brasileiro, acostumado a carregar nos ombros uma carga tributária que é, segundo 54,4%, “muito mais alta do que deveria ser”, parece disposto a desenhar um novo pacto social: aliviar os que menos têm e apertar quem, na pirâmide, mora no topo do topo. É justo. É belo. É possível?

A ideia de um imposto extra para quem ganha mais de R$ 600 mil por ano surge como a tábua de salvação de um sistema tributário que já nasceu com rachaduras.

A promessa de taxar grandes fortunas, no Brasil, tem a mesma idade da própria República. Passaram-se governos, décadas e crises, e o que vemos, na prática, é uma elite que, com habilidade, dança por entre as brechas da lei.

Mas sejamos honestos: enquanto discutimos como tirar de uns para dar a outros, o brasileiro comum não suporta mais pagar por uma máquina pública que, frequentemente, parece um veículo sem revisão. A pesquisa aponta que 69,5% são favoráveis a cortes de gastos públicos para o controle orçamentário. A mensagem é clara: o problema não é só arrecadar mais, mas gastar melhor.

E aqui chegamos ao ponto crucial. Não basta redesenhar faixas de isenção ou criar impostos progressivos.

É preciso coragem para enfrentar os monstros da ineficiência, do desperdício e da corrupção. Porque, sejamos francos, o brasileiro não é contra contribuir, mas quer ver o dinheiro aplicado com honestidade, sabedoria e retorno real.

Enquanto isso, o debate sobre privatizações segue como um tango argentino, cheio de paixão e polarização.

Metade do país discorda da privatização irrestrita de empresas. E, quando o assunto é petróleo, a resistência aumenta: 53% são contrários a abrir mão das operações sob controle estatal. Talvez porque, no fundo, o brasileiro não quer só ser dono do petróleo; quer ser dono do futuro.

O Brasil que emerge dessa pesquisa é o Brasil da esperança, mas também das contradições. Um país que sonha com justiça fiscal, mas não confia no próprio Estado para administrá-la. Um Brasil que quer mudança, mas hesita quando ela vem na forma de privatizações ou ajustes dolorosos.

Caberá ao governo transformar promessas em projetos concretos. Caberá ao Congresso fazer mais do que discursos inflamados e votar com responsabilidade.

E caberá a nós, brasileiros, lembrar que o imposto que pesa no bolso é o mesmo que, bem aplicado, constrói pontes - literais e figurativas.

Porque o IR dos sonhos não é isenção, nem alívio, nem aumento. É um pacto. Um pacto que transforma arrecadação em equidade, e equidade em futuro.

* Gregório José Lourenço Simão é jornalista, radialista e filósofo. E-mail: gregoriojsimao@yahoo.com.br

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