Trump, no melhor estilo Odete Roitman
O especialista em finanças, Rodrigo Miranda, faz uma análise sobre o cenário atual que envolve as relações comerciais entre EUA x China

As questões comerciais entre China e EUA sempre foram um dos principais motores de volatilidade nos mercados globais.
Desde 2018, as duas maiores potências econômicas do mundo vêm travando batalhas tarifárias que impactaram de forma significativa o comércio internacional e a confiança dos investidores.
A chamada “tarifaço” implementada durante o governo Trump elevou impostos sobre centenas de bilhões de dólares em bens chineses, e Pequim reagiu de forma semelhante, escalando o conflito.
O resultado imediato desse debate foi o aumento dos preços para consumidores e empresas, além do desaquecimento do comércio mundial.
Embora o cenário tenha se agravado nos primeiros meses do ano, recentemente observamos sinais concretos de resfriamento.
Trump, ao comentar sobre o novo tom diplomático, afirmou: "A China precisa de nós tanto quanto precisamos deles. Negociar é necessário".
O governo chinês, por sua vez, permitiu publicamente a necessidade de prevenir um abalo estrutural entre as duas economias.
O presidente Xi Jinping declarou neste mês: "A cooperação é sempre melhor do que o confronto. Ganhos mútuos devem guiar nossa relação com os EUA".
O mercado interpretou o gesto de trégua com rompimento, refletindo em recuperação de índices acionários e melhora no sentimento de risco.
No comparativo das tarifas aplicadas, os dados mais recentes mostram que a média das tarifas sobre produtos chineses caiu de 19,3%, em 2020, para cerca de 14,6%, ao passo que as tarifas chinesas sobre bens norte-americanos foram reduzidas de 20,7% para 16%.
Essa flexibilização ajuda principalmente empresas do setor tecnológico e automotivo, setores bastante impactados pelas restrições dos últimos anos.
O trégua na guerra comercial deve, em parte, ao desaceleração do crescimento global e à pressão inflacionária sentida em ambos os países.
Com custos altos e cadeias de suprimentos pressionadas, recuperar nas barreiras protecionistas se tornou estratégico.
Esse movimento resulta em maior entrada de capitais estrangeiros e contribui para o fortalecimento dos mercados de renda variável, como S&P 500 e o índice de Xangai, que já apontam recuperação após os anúncios de trégua.
O discurso nas perguntas não beneficiou apenas as ações. As criptomoedas, especialmente o Bitcoin, também reagem positivamente.
O BTC costuma ser visto como um “porto seguro” em momentos de incerteza geopolítica, mas sua funcionalidade também ganha destaque com mais liberdade de circulação de capitais.
A busca pela diversificação leva tanto investidores institucionais americanos quanto asiáticos a ampliar a porta em criptoativos.
Durante o auge da guerra comercial, o Bitcoin registrou fortes valorizações, atingindo recordes históricos em meio ao temor de novas rodadas de tarifas e controles de capitais. Agora, com sinais de acomodação, observa-se, por outro lado, um crescimento sustentado e menos volátil, típico de ativos que inicialmente se consolidam como parte permanente das carteiras globais.
EUA e China são, juntos, os maiores mercados consumidores e, ao suavizar o debate, facilitam transações internacionais e novas integrações entre bolsas e exchanges. Isso acelera e amplia caminhos para o uso regulamentado de criptomoedas.
Empresas multinacionais também retomam planos de transferência e custódia em Bitcoin, aproveitando a maior previsibilidade do ambiente externo.
No contexto atual, outro fator relevante é o ciclo de redução de juros em ambas as economias, impulsionando o apetite ao risco e estimulando a alocação em ativos alternativos como o Bitcoin.
A moeda digital serve, neste cenário, como hedge tanto contra eventual volta das tensões quanto contra políticas inflacionárias expansionistas.
É fundamental ressaltar que a normalização das relações comerciais entre a China e os EUA não elimina completamente os riscos, mas distribui melhor o foco dos investidores e reduz os impactos de choques localizados.
Para o Bitcoin, o maior ganho está no ambiente menos imprevisível, o que se traduz numa imagem de reserva de valor moderna e globalizada.
Por agora, EUA x China selaram uma trégua não combinada, dando oportunidades às turbulências econômicas mundiais.
E Trump, no melhor estilo Odete Roitman, pode estar buscando uma programação menos dramática - menos novela mexicana. Qualquer oscilação econômica pode ser mera coincidência.
* Rodrigo Miranda é treinador comportamental e especialista em mentalidade financeira
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